Entendemos a escola como um lugar em que a criança – um sujeito de direitos que não possui condições de expressar seus próprios pedidos ao mundo de maneira direta, autônoma e explícita – encontra adultos que interpretam seus interesses e assumem a tarefa de transformar esses pedidos em condições de vida concretamente disponíveis, materializando e colocando em prática os seus direitos.
Toda criança deve ter seus direitos sociais reconhecidos e garantidos, como saúde, educação, segurança, cuidados físicos, vida familiar, recreio e cultura. Assim como tem o direito de ser protegida contra a discriminação, abuso físico e sexual, exploração, injustiça e conflito. Também tem direitos civis e políticos, como direito ao nome e à identidade, à liberdade de expressão e opinião e o direito a tomar decisões em seu proveito. Toda criança tem direito de ser feliz.
A Cultura da Infância é um conceito que nos ajuda a compreender que a criança tem modos próprios de entender e de subjetivar o mundo: a criança é capaz de observar, apreender e interpretar aquilo que vivencia, de ser e habitar o mundo e a sociedade de modo ativo.
Sempre que uma criança vem ao mundo, ela traz consigo a possibilidade do inédito. No entanto, ela chega em uma sociedade que a precede, com códigos e significados próprios. Nós, como adultos, pais, e como sociedade, temos uma tarefa dupla: por um lado, devemos ser suficientemente abertos para acolher o que a criança traz; por outro lado, devemos ajudar essa criança a pertencer e a continuar as ritualidades (que fazem sentido que continuem) nessa sociedade em que ela chega.
O pensamento da criança tem grande importância para a continuidade e a manutenção das sociedades. Validar seus pensamentos e seu modo de construir significados, deixando visível para ela que aquilo que ela traz está sendo escutado, visto e interpretado como algo valioso e relevante para a sociedade, é um pilar fundamental para o respeito à cultura da infância.
“As crianças não sabem menos, elas sabem outras coisas”. – Cohn (2006)
Os vínculos são a base da vida. O ser humano é essencialmente um ser social. Ele nasce em uma família, em uma comunidade, em um país, em uma cultura. Seu desenvolvimento se dará em função do caráter das relações que serão estabelecidas com ele, como novo integrante de todo este entorno.
O vínculo torna-se então uma referência para o bebê, para as crianças e para todo o desenvolvimento do ser. Se o vínculo é amoroso e acontece através de relações carregadas de afeto, dedicação e cuidado, a criança formará uma imagem mais integrada de si mesmo e do mundo em que ele se encontra.
Diferente de muitos paradigmas que olham para a criança como um ser incompleto e em formação, nosso olhar é para a criança como um ser completo, ativo, competente e atuante. Em um contexto ideal de aprendizagem e desenvolvimento, a criança participa do seu processo educativo e deveria ser vista como alguém que “já é”, e não um “vir a ser”.
Sim, as crianças estão em formação. Mas, igualmente, assim também estão os adultos. O ser humano nunca está pronto, ao mesmo tempo em que sempre está. Este é o paradoxo que a educação deve sempre considerar.
Em nossa concepção, educar e cuidar são atos indissociáveis. A educação não pode existir sem o cuidado e vice-versa.
Quando educação e cuidado se fundem na mesma intenção, criamos as condições para que a criança explore o mundo à sua maneira, para que ela possa construir significados próprios, sentidos pessoais e coletivos em um espaço seguro e protegido. Ao ser protegida, a criança também aprende a se proteger.
Assim, educar também pode ser entendido como “cuidar do outro para que este aprenda a cuidar de si”.
Em sua essência, o cuidar é ético, porque é orientado pela busca do que é bom, daquilo que permite moldar uma vida digna e prazerosa. Quando agimos orientados pela intenção de fazer o bem, cuidar é natural.
UBUNTU UNGAMNTU NGANYE ABANTU” – “Pessoas são pessoas através de outras pessoas”, ditado Xhosa, língua materna de Nelson Mandela.
O brincar é a maneira das crianças estarem no mundo. Por meio das brincadeiras elas interagem com o outro, com os objetos e com os ambientes. Brincar é essencial ao desenvolvimento integral das Crianças.
As crianças não brincam para adquirir habilidades, pois a brincadeira tem um fim em si mesma. Entretanto, ao brincar, elas estão enfrentando incertezas e desafios, exercitando a autonomia e elaborando sentimentos e emoções.
Assim, brincar é aprender, é tecer significados, num movimento de atribuir sentido ao mundo e, ao mesmo tempo, compreendê-lo. Brincar é um caminho seguro para a construção de realidades.
A valorização das identidades étnico-raciais, de seus valores civilizatórios e de suas contribuições para a nacionalidade brasileira são um princípio fundamental do Instituto.
Toda a criança tem o direito de ter sua identidade étnico-racial valorizada, de conhecer a história e a cultura de seus ancestrais e de aprender sobre os demais. A criança pequena merece aprender a construção de relações étnico-raciais respeitosas, empáticas e pacíficas, para que possa crescer em uma sociedade livre do racismo.
Em uma sociedade em que o branco ainda ocupa um lugar de centralidade, cabe à escola sustar o sofrimento das crianças não brancas e oferecer um ambiente equalitário, seguro, para que se construam as bases para ações de combate ao racismo e valorização das diferenças.
Toda criança tem o direito de receber a diferença étnico racial com o olhar orientado para a beleza e a riqueza da diversidade, livre de hierarquizações raciais que impliquem na promoção de desigualdades de oportunidades.
As crianças, como seres humanos recém-chegados ao mundo, necessitam de ambientes saudáveis, que sejam facilitadores de seus processos singulares de desenvolvimento socioemocional.
Quando falamos em ambientes saudáveis, nos referimos a espaços, tempos, materiais, mas também – e principalmente – a esse “ambiente” afetivo e emocional. E sabemos que um ambiente emocionalmente saudável depende, diretamente, de adultos emocionalmente saudáveis.
Trabalhar o desenvolvimento socioemocional é trabalhar um ambiente que seja seguro e saudável, em primeira instância, para os adultos e, consequentemente, para as crianças. Adultos emocionalmente saudáveis são adultos democráticos, capazes de sustentar uma experiência positiva de transformação, na qual a escola é o exemplo máximo, o campo de experimento da “utopia social”.
Adultos também precisam ser olhados, escutados, respeitados e valorizados. Nesse sentido, enquanto educadores, precisamos mover o nosso ponto focal, migrando do olhar posto exclusivamente na criança para um olhar flexível e atento também aos adultos. Acreditamos que, para honrar a criança, é preciso honrar aqueles que a acompanham.
Assim, buscamos um desenvolvimento socioemocional que abrange toda comunidade escolar: professores, coordenadores, colaboradores, secretarias de educação, famílias, cuidadores e quem mais estiver participando nessa comunidade.
Um desenvolvimento positivo, que vai se refletindo sobre as crianças, em efeito cascata, como um banho de florescimento, amor e respeito.
“O OBECI, ou Observatório da Cultura Infantil, é uma comunidade de inovação, pesquisa e desenvolvimento profissional que tem como foco transformar o cotidiano pedagógico das escolas de Educação Infantil. Ao longo dos dez anos da nossa experiência, temos construído um modelo de formação e uma abordagem pedagógica que dialoga com as principais referências do último século das pedagogias participativas e que acolhe as contribuições e características da cultura e da realidade brasileira. Somos uma comunidade formada por professoras, coordenadoras pedagógicas, diretoras escolares, pesquisadores e, principalmente, crianças e suas famílias. Nosso compromisso é qualificar o cotidiano das escolas a partir das estratégias que as professoras criam para o dia a dia educativo acolher, respeitar e ajudar os meninos e as meninas a crescer e a se desenvolver integralmente. Neste ano de 2023, iniciamos um diálogo importante e promissor junto ao Instituto Stella Goulart com a finalidade de ampliar nossa experiência para outros contextos e aprofundar nossas pesquisas e o desenvolvimento da nossa abordagem.”
Paulo Fochi
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